O príncipe árabe e o ponto de vista

domingo, 18 de agosto de 2019


Dois homens chegam a fase final em uma concorrência por um emprego milionário. A vaga por tal emprego dos sonhos era oferecida somente uma vez por ano, por um príncipe árabe, multibilionário. O príncipe, no entanto, tinha um problema: não havia nenhum critério de desempate para os dois finalistas. Haviam igualmente passado em todos os testes, e tinham as mesmas capacidades técnicas.

O príncipe então isola cada um em uma sala, e vai falar com cada um separadamente. Para cada um deles, o príncipe diz que o outro concorrente havia sido melhor na última etapa. E que, portanto, havia ganhado a vaga de emprego. Após a notícia, ele pedia para que o entrevistado descrevesse o que exatamente passou pela cabeça ao receber tal notícia.

O primeiro entrevistado disse que passou pela cabeça o sentimento de derrota. De que tinha falhado. E de tristeza por não ter conseguido o que tanto queria. O segundo entrevistado disse que passou pela cabeça que a única etapa onde ele não foi bem, agora ele já sabia bem qual era, pois, o príncipe tinha dito.  E de posse de tal conhecimento, não conseguir o emprego no ano seguinte seria inevitável.

O primeiro homem foi dispensado, e o segundo imediatamente contratado. Eles tinham a mesma idade, as mesmas capacidades técnicas, o mesmo estudo, a mesma oportunidade, e ao final, tinham o mesmo problema. A única diferença é que onde um viu derrota, outro viu oportunidade. 

A forma como vemos as coisas, e atribuímos significado a elas, fazem total diferença. Qual dos dois entrevistados você tem sido diariamente?

Encare essa realidade: nem tudo na vida é possível

quarta-feira, 27 de março de 2019


Dizer sim para algo é, necessariamente, dizer não para outras tantas. Cada escolha traz consigo suas perdas, mas escolher é preciso.

Há uma grande fonte de sofrimento nos dias atuais, disseminada, em boa parte, por pessoas que têm como profissão fazer justamente o contrário; como é o caso dos profissionais do coaching, que têm como objetivo o desenvolvimento pessoal. Essa fonte de sofrimento é a ideia de que tudo é possível.

A base para o desenvolvimento pessoal é o autoconhecimento, que muitas vezes é pintado de uma forma totalmente errônea por profissionais do coaching e outro profissionais da área, como psicólogos e psiquiatras. A ideia de um autoconhecimento que não leve a pessoa a medir-se, e a perceber que possui limitações internas e externas, e assim entender que nem todas as coisas que gostaríamos estão a nosso alcance, gera falsas expectativas, que por sua vez geram sofrimento.

Quando as pessoas sonham em conquistar algo, mas antes não reconhecem suas próprias limitações, levados pela ideia de que basta querer e que tudo é possível, tendem a fracassar miseravelmente. Na conquista de bens extrínsecos (exteriores), que geralmente ocupam os primeiros lugares nos sonhos da grande maioria, há limites inumeráveis; coisas que fogem de nosso controle. Se, por exemplo, o sonho de uma pessoa é passar em um concurso que tem como exigência a altura de 1,60, ela tendo 1,58 não vai passar. Quando compramos a ideia de que basta querer, de que tudo é possível, ignoramos nossos limites, e seguimos rumo ao fracasso.

Por outro lado, temos os bens intrínsecos, e ainda que não ocupem os primeiros lugares na lista de sonhos da grande maioria, esses sim estão a nosso alcance.  Além de estarem a nosso alcance, são os que mais importam, os que não perdem valor e nem se acabam, como acabam-se os bens exteriores. Almejar tornar-se uma pessoa dedicada, ou honrada, ou sincera, ou paciente, isso sim está ao alcance de todos. Não só está ao alcance de todos, são bens internos, que não te podem ser retirados, nem nunca se acabam.

Ao se abrir para o autoconhecimento genuíno, passamos a perceber nossos limites e nossas fraquezas, e isso é essencial para que tracemos metas concretas em nossa vida. Quando deixamos de traças metas impossíveis, e ao mesmo tempo passamos a cultivar o desejo por bens intrínsecos, nos tornamos pessoas melhores e mais feliz. Entender que o caminho que leva até certas coisas é conflitante com o caminho que leva a outras, faz com que entendamos que não é possível ter tudo que gostaríamos. Para ter certas coisas, precisaremos abrir mão de algumas outras. E essa consciência é o que nos tira de um mundo imaginário e neurótico, e nos instala em no mundo da realidade. Dizer sim para algo é, necessariamente, dizer não para outras tantas. Cada escolha traz consigo suas perdas, mas escolher é preciso.

Debilidades da direita no combate cultural

sexta-feira, 22 de março de 2019


Se há uma coisa que é comum, nos mais diversos setores da sociedade, é a pressa em agir. Já diziam os antigos que apressado come cru, e que a pressa é inimiga da perfeição. Depois de um longo período apagada no arco do tempo, a direita alçada pelos ideais representados por Jair Bolsonaro surgiu já com este terrível mal, cristalizado em si. Não tomando consciência do que de fato é necessário ser feito, aqueles que pretendem ser suporte para o atual governo podem acabar por precipitá-lo ao fracasso. 

O movimento comunista, que no Brasil conseguiu obter hegemonia intelectual e cultural, não conseguiu este feito através de um governo de 4 ou 8 anos, tampouco o conseguiu da noite para o dia. Durante décadas eles trabalharam arduamente, efetuando a ocupação de espaço propostas pelo ideólogo Antônio Gramsci. Se eles levaram 50 anos para colocar tudo isso em prática, o mínimo que vamos levar para desfazer tudo isso, e fazer um contraponto, é também 50 anos. Querer fazer algo mais rápido que isso só resultará em derrota.

Não procurar compreender em profundidade o cenário de combate cultural ao qual estamos inseridos, pode fazer com que muitas pessoas, de posse de uma visão muito superficial do problema, tomem posse de alguns chavões que circulam na internet, e se coloquem em prontidão para resolver um problema que não estão aptos a sequer compreender, muito menos resolver. O sinal mais claro da incompreensão dessa situação que nos abarca, por parte dessa nova direita, é imaginar que verá, ainda em vida, a vitória do conservadorismo sobre o movimento comunista. Quem quer que não tenha perdido as ilusões de ver essa vitória acontecer, e que não tenha se conscientizado de que os frutos desse nosso combate cultural só serão colhidos por nossos filhos e netos, não entendeu 10% do que está acontecendo. 

Quando o professor Olavo de Carvalho fala sobre a necessidade de ir estudando e ocupando espaços, muitas pessoas cortam a parte do estudando, e ainda interpretam mal a ocupação de espaços. Se, por exemplo, não investigamos as fontes culturais de nossa conduta, não sabemos quem está determinando nossa conduta. Quantas pessoas se colocam a meditar sobre essa situação, que é elementar? 

Na busca pela ocupação de espaços é fácil hoje ver em todo o Brasil a direita lutando por cargos públicos e por comissões políticas. Mediante isso, duas perguntas são imprescindíveis: 1) O caminho para chegar até lá foi pautado por uma vida intelectual? 2) Os que buscam tais postos estudaram o que é o poder, o que é a política, e sabem exatamente o que precisam fazer ao chegar lá?

Se ao ver a necessidade de uma vida intelectual, você se questiona se isso é mesmo necessário para realizar tal feito, uma luz de alerta deve se acender, e você deve se questionar. Os grandes acontecimentos políticos surgem através de ideias de filósofos, que por sua vez, surgem em meio a conversas em pequenos grupos de intelectuais. Ao ler Dostoievski, vemos lá um pequeno grupo, em 1850, conversando sobre revolução, que só foi acontecer em 1917. Já nos alertava Hugo Von Hofmannsthal: “Nada está na realidade política de um país, que não esteja primeiro na sua Literatura. ”

O tipo de ocupação de espaços realizada pelo movimento comunista no Brasil, é essa que coloca o sujeito na literatura, para influenciar toda uma geração. Que coloca o sujeito na mídia, para influenciar toda a sociedade. Não é uma ocupação de espaços direto na política, com muitos da nova direita estão entendendo e realizando. Quando Olavo de Carvalho fala que para quebrar o movimento comunista é preciso continuar estudando e ocupando espaços, ele não está falando da conquista de cargos públicos e comissões em partido. Ele está falando em formar grupos de estudo, grupos de literatura, grupos de debate, que vão em primeiro lugar formar uma classe intelectual. Que vão restaurar a cultura literária, artística e cinematográfica. Depois vão restaurar a cultura historiográfica, filosófica, sociológica. Realizar discussões entre intelectuais para obter a descrição da situação. Formar um estado maior para realizar estudos mais sistemáticos. Criar um serviço de informações para alimentar o estado maior. Iniciar a formação da militância, para daí surgir ações. Dessa forma, exercendo um tipo específico de poder, que é o poder intelectual, que embora seja o meio de poder mais demorado, é o mais efetivo. Você pertence a algum grupo de direita, por esse Brasil a fora, ainda que de forma virtual? Suas ações são voltadas para o estudo e essa ocupação de espaços específica? Ou estão perdidos em meio a politicagem?

A ineficiência de uma direita ignorante

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Durante décadas a esquerda tem se fortalecido no Brasil, ano após ano. Os comunistas, que chegaram a empreender aqui a guerrilha armada, alcançaram o poder por meio da revolução cultural. Ocupando de forma hegemônica a cultura e a intelectualidade brasileira, o movimento comunista conseguiu passar despercebido por muitos, e permanece vivo aqui. Acontece que o grande número de parlamentares, que se dizem da direita, e que foram eleitos, pode não ser o bastante para enfrentar o movimento esquerdista. Isso se deve ao fato de muitos deles terem surfado na onda Bolsonaro, terem usado alguns chavões durante a campanha, quando, na realidade, são verdadeiros ignorantes no que diz respeito ao combate cultural.

Quem quer que leia um pouco sobre Antônio Gramsci, vai perceber que os comunistas nunca almejaram alcançar o poder no Brasil por meio da guerrilha armada. Nos anos 60, enquanto uma fração de comunistas era combatida pelos militares, os esquerdistas faziam a revolução cultural, seguindo os ensinamentos de Gramsci. Distraídos com os revolucionários armados, os militares não perceberam que os comunistas começaram a ocupar as redações de jornais, as escolas, os seminários, e por aí vai.

Colocando em prática os ensinamentos de Gramsci, o movimento comunista conseguiu alcançar uma hegemônica cultural e, mais tarde, intelectual. Podemos usar como um exemplo de sua eficácia, a criação da sindicalização obrigatória dos jornalistas, onde os comunistas já na década de 70 tinham sindicalizado e fichado todo mundo. Com cadastro total dos jornalistas do país, e sabendo quais poderiam colaborar ou não, os comunistas estavam no comando de todos os sindicatos de jornalistas espalhados pelo país, e quando surgia alguma vaga de trabalho na mídia, eles não davam espaço para qualquer um, utilizavam seu banco de dados para favorecer aqueles que iriam colaborar com o movimento.

Quando se fala em esquerda no poder, imediatamente pensamos em representantes da esquerda sendo eleitos para cargos como, por exemplo, o da presidência da república. É preciso lembrar que antes de chegarem a obter esse poder na política, já tinham uma hegemonia cultural e intelectual, e que os alçou ao poder político. Enquanto a esquerda tiver o domínio da cultura e da intelectualidade brasileira, não há como destruí-la. Quando alguém da direita imagina que derrotar um candidato esquerdista, como o Lula, ou ainda derrotar um partido esquerdista, como o PT, é derrotar a esquerda, ele não tem a mínima ideia do que seja, efetivamente, a esquerda. Nem a menor ideia do que seja o combate cultural, no qual está inserido. Se derrotamos a esquerda no cenário político, amanhã ou depois eles voltam ao poder, pois possuem a hegemonia cultural, e os meios de ação.

A escalada pela revolução cultural para chegar ao poder, é algo tão importante que, cerca de 20 anos antes da revolução soviética, em 1917, já havia ali a cultura comunista sendo disseminada. Também no Brasil a escalada aconteceu de maneira semelhante, e levou cerca de 50 anos para que os comunistas atingissem o poder que hoje exercem sobre a nação brasileira. Um deputado, senador, ou ainda um presidente que imagine que possa ele próprio resolver esse problema em seus 4 anos de mandato, é um verdadeiro idiota. Tudo que os comunistas fizeram para chegar até aqui levou décadas, não dá para resolver em 4 ou 8 anos somente. É preciso também de décadas para reverter tal processo. Para corrigir esse problema, é preciso começar a fazer planos para daqui a 50 anos.

O filosofo Olavo de Carvalho, foi o primeiro a perceber e denunciar que a esquerda estava tomando o poder por meio de uma revolução cultural. Ele quem, lendo Antônio Gramsci, identificou o que estava sendo feito pelos comunistas e denunciou.  Para reverter esse cenário, Olavo aponta que é preciso promover a lenta, gradual e segura ocupação de espaços. Promover a ocupação de espaços pela direita e realizar a formação da nova geração, que vai substituir essa geração que aí está.

Durante muitos anos a esquerda esteve ocupando as principais chapas da disputa presidencial. O próprio Lula, ao enfrentar José Serra em um segundo turno, disse que estava feliz por haver dois partidos de esquerda no poder, e que ele e Serra haviam inaugurado uma nova forma de fazer política, que mais tarde ficou conhecida como estratégia das tesouras. Formam um falso antagonismo entre si, mas, no final, sempre estão no poder.

Nas eleições de 2018, presenciamos um fenômeno político, onde elementos de uma direita se cristalizaram na figura de Jair Bolsonaro, e o levaram a presidência. Em meio a essa onda Bolsonaro (fenômeno político) deputados e senadores foram eleitos, se valendo do rótulo da direita e do conservadorismo. Acontece que boa parte desses parlamentares são, na verdade, direitistas improvisados. Tendo usado chavões da direita e do conservadorismo durante a campanha, agora, eleitos, têm demonstrado serem totalmente desprovidos do conhecimento sobre a guerra cultural que enfrentamos.  Incapazes de perceber o que são esquemas de poder, têm aberto espaço para que a esquerda continue agindo.

Após eleitos, os parlamentares precisam preencher cargos. E é aqui que mora um grande problema. Um parlamentar verdadeiramente da direita, de posse dos conhecimentos necessários para compreender a guerra cultural e o atual cenário político, precisa ter em mente que é necessário que a direita faça uma ocupação de espaços. Precisa ter em mente que é necessário substituir as pessoas que compõem os gabinetes por soldados da direita. Acontece que sem conhecimento necessário, os parlamentares caem no imbecil erro de visar uma coisa chamada capacidade técnica.

Um dos motivos pelos quais não podemos denominar o comunismo como sendo uma ideologia, é porque ele já trocou de ideologia centenas de vezes. Se trocam de ideologias, como podemos reconhece-los? É simples, basta observar que, ainda que troquem de ideologias, são sempre as mesmas pessoas. Por isso o comunismo é melhor denominado como sendo um movimento, e que exerce um poder sobre seus integrantes.

Quando um desses parlamentares da direita precisa escolher as pessoas para preencher os cargos, é inútil frisar no campo ideológico, pois, como vimos, eles trocam de ideologia como quem troca de roupa. Mais inútil ainda, é se orientar com base na capacidade técnica. É preciso observar a que esquema de poder aquela pessoa está ligada. É preciso cuidar para que não sobre nos cargos nenhuma pessoa que tenha ligações com governos passados, e com governos esquerdistas. É preciso remover todas essas pessoas, e colocar pessoas que sejam, efetivamente, da direita, custe o que custar. Foi fazendo isso que a esquerda chegou onde chegou. E somente assim, fortalecendo a direita, é que vamos realizar a necessária ocupação de espaços e reverter o quadro político.

Um parlamentar que ousa intitular-se como sendo de direita, e que deixa de nomear para algum cargo um integrante da direita para deixar no poder alguém que tenha ligações com governos de esquerda, alegando questões de capacidade técnica, só pode ser duas coisas: 1) É um total ignorante no que diz respeito a Guerra Cultural, e não compreendeu quem é o inimigo, como ele age, e como derrota-lo. 2) É um covarde, que mesmo percebendo tudo isso, não tem brio nem culhão para realizar as mudanças necessárias, ainda que isso lhe custe o próprio mandato.

Geração Perdida

O estado deplorável da educação no Brasil, é algo muitíssimo mais grave que os casos de corrupção, que frequentemente ocupam as manchetes nos jornais, e que costuma até mesmo gerar uma mobilização nacional, em alguns casos. Ainda que juntássemos todos os casos de corrupção que envolveram os governos petistas, não seria mais grave que o atraso na educação brasileira.

Não me canso de lembrar da notícia gravíssima que recebemos em 2018, quando o Banco Mundial divulgou uma avaliação, onde dizia que o Brasil precisaria de 260 anos para recuperar o terreno perdido em educação. Isso significa que o país está sendo castrado através de seu capital cultural. Estamos deixando de preparar as novas gerações, que deveriam está sendo qualificadas, para nas próximas décadas levar o país adiante, seja na área econômica, científica tecnológica, ou em demais aspectos.

No ano de 2016, foi divulgada uma pesquisa, realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG e pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, onde se constatou que a cada três minutos, cerda de dois brasileiros morrem em um hospital por consequência de um erro médico, e que poderia ser evitado. A estimativa era de que, em 2015, essas falhas acarretaram em 434.000 óbitos, o equivalente a 1.000 mortes por dia. Ou seja: erro médico no Brasil mata mais que o câncer.

Como a situação da educação piora a cada dia, e a cada dia os estudos apontam que estamos regredindo, podendo chegar a mais de 260 anos de atraso no terreno da educação, imagine daqui a 10 anos, onde essas pessoas que estão sendo formadas hoje estarão. As mesmas que são passadas para frente na escola e na universidade, sem atingir um grau de aprendizado ideal, em meio a essa educação totalmente defasada. Serão essas pessoas, malformadas e mal capacitadas, os médicos no futuro, a quem entregaremos nossa vida e a de nossos familiares, quando necessário. Serão eles os próximos engenheiros, cientistas, filósofos, professores, e por aí vai. O caso da corrupção pode parecer mais importante, pois no geral colhemos as consequências mais rapidamente. Mas as consequências da péssima educação serão muito piores; e elas chegarão, com toda certeza.

O Humanismo contra Deus

É preciso abandonar a prática humanista de querer dar significado ao mundo, e buscar o verdadeiro significado da vida em Deus.

Nos últimos séculos, não é segredo que o homem vem tentando ocupar o lugar de Deus na sociedade. Com passar do tempo, temos medidas cada vez mais ousadas. Se Friedrich Nietzsche, falecido no início do século XX, já dizia naquela época que Deus estava morto, hoje a revolução humanista vai muito mais além, sequer o levando em consideração.

Através do culto a humanidade, os humanistas estabelecem o homem como sendo o centro do significado da vida. Querem que o homem deixe de recorrer a Deus para encontrar o significado da vida e de suas ações, para buscar o significado da vida e de suas ações dentro de si mesmo. Houve um tempo em que a humanidade buscava respostas em Deus, hoje, por meio da revolução humanista, ela busca resposta em si mesma.

Os conceitos de bondade, correção e beleza, eram, no século XIV, obtidos através de Deus. Se desejássemos saber o que era errado ou não, o que era mau ou bom, recorríamos a Deus. Hoje a fé que tínhamos em Deus passou para uma fé na humanidade. E quando desejamos obter tais respostas, extraímos de nossas experiências interiores.

Se houve um tempo onde a fonte de autoridade e significado estava em Deus, hoje passamos a conceber que toda essa fonte de autoridade e significado está em nós mesmo. Alguém que cometesse um ato imoral séculos atrás, se via debaixo da autoridade de Deus, e via a necessidade de se confessar e buscar orientação religiosa. Nós dias atuais busca-se aconselhamentos com a própria mente, ouvindo nossos sentimentos e emoções. E se nossa mente não nos acusa, isso nos basta.

Esse humanismo, que procura retirar a fé em Deus e atribui-la a humanidade, não é algo recente, mas sim algo que vem acontecendo ao longo dos últimos séculos. Todos os dias ouvimos alguém dizer que é preciso ouvir nossa voz interior ou seguir nosso coração, sem nos dar conta da gravidade de tais afirmações. Jean-Jacques Rousseau, em seu romance Emílio, vai dizer que ao buscar as regras de conduta da vida, ele as encontrou em seu próprio coração, e que só precisa consultar a si próprio a respeito do que quer fazer. Segundo Rousseau, o que ele sente que é bom é bom, e o que ele sente que é ruim, é ruim.

Como meros mortais que somos, nossos sentimentos e nossas opiniões são bastante instáveis. Ao empreender uma busca pela verdade, desconsiderando que é Deus o responsável por atribuir sentido à vida, e passando atribuir autoridade a nossas experiências interiores, como meros mortais, facilmente somos levados por prazeres mundanos, e facilmente caímos no erro. Os significados que atribuímos a vida mediante nossa opinião humana, é algo completamente efêmero. Enquanto isso, Deus sim é a verdadeira fonte de verdades absolutas e imutáveis, e quem deve, exercendo sobre nós sua autoridade, dar significado a nossa existência e nossos atos. É preciso abandonar a prática humanista de querer dar significado ao mundo, e buscar o verdadeiro significado da vida em Deus.
 
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