A ineficiência de uma direita ignorante

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Durante décadas a esquerda tem se fortalecido no Brasil, ano após ano. Os comunistas, que chegaram a empreender aqui a guerrilha armada, alcançaram o poder por meio da revolução cultural. Ocupando de forma hegemônica a cultura e a intelectualidade brasileira, o movimento comunista conseguiu passar despercebido por muitos, e permanece vivo aqui. Acontece que o grande número de parlamentares, que se dizem da direita, e que foram eleitos, pode não ser o bastante para enfrentar o movimento esquerdista. Isso se deve ao fato de muitos deles terem surfado na onda Bolsonaro, terem usado alguns chavões durante a campanha, quando, na realidade, são verdadeiros ignorantes no que diz respeito ao combate cultural.

Quem quer que leia um pouco sobre Antônio Gramsci, vai perceber que os comunistas nunca almejaram alcançar o poder no Brasil por meio da guerrilha armada. Nos anos 60, enquanto uma fração de comunistas era combatida pelos militares, os esquerdistas faziam a revolução cultural, seguindo os ensinamentos de Gramsci. Distraídos com os revolucionários armados, os militares não perceberam que os comunistas começaram a ocupar as redações de jornais, as escolas, os seminários, e por aí vai.

Colocando em prática os ensinamentos de Gramsci, o movimento comunista conseguiu alcançar uma hegemônica cultural e, mais tarde, intelectual. Podemos usar como um exemplo de sua eficácia, a criação da sindicalização obrigatória dos jornalistas, onde os comunistas já na década de 70 tinham sindicalizado e fichado todo mundo. Com cadastro total dos jornalistas do país, e sabendo quais poderiam colaborar ou não, os comunistas estavam no comando de todos os sindicatos de jornalistas espalhados pelo país, e quando surgia alguma vaga de trabalho na mídia, eles não davam espaço para qualquer um, utilizavam seu banco de dados para favorecer aqueles que iriam colaborar com o movimento.

Quando se fala em esquerda no poder, imediatamente pensamos em representantes da esquerda sendo eleitos para cargos como, por exemplo, o da presidência da república. É preciso lembrar que antes de chegarem a obter esse poder na política, já tinham uma hegemonia cultural e intelectual, e que os alçou ao poder político. Enquanto a esquerda tiver o domínio da cultura e da intelectualidade brasileira, não há como destruí-la. Quando alguém da direita imagina que derrotar um candidato esquerdista, como o Lula, ou ainda derrotar um partido esquerdista, como o PT, é derrotar a esquerda, ele não tem a mínima ideia do que seja, efetivamente, a esquerda. Nem a menor ideia do que seja o combate cultural, no qual está inserido. Se derrotamos a esquerda no cenário político, amanhã ou depois eles voltam ao poder, pois possuem a hegemonia cultural, e os meios de ação.

A escalada pela revolução cultural para chegar ao poder, é algo tão importante que, cerca de 20 anos antes da revolução soviética, em 1917, já havia ali a cultura comunista sendo disseminada. Também no Brasil a escalada aconteceu de maneira semelhante, e levou cerca de 50 anos para que os comunistas atingissem o poder que hoje exercem sobre a nação brasileira. Um deputado, senador, ou ainda um presidente que imagine que possa ele próprio resolver esse problema em seus 4 anos de mandato, é um verdadeiro idiota. Tudo que os comunistas fizeram para chegar até aqui levou décadas, não dá para resolver em 4 ou 8 anos somente. É preciso também de décadas para reverter tal processo. Para corrigir esse problema, é preciso começar a fazer planos para daqui a 50 anos.

O filosofo Olavo de Carvalho, foi o primeiro a perceber e denunciar que a esquerda estava tomando o poder por meio de uma revolução cultural. Ele quem, lendo Antônio Gramsci, identificou o que estava sendo feito pelos comunistas e denunciou.  Para reverter esse cenário, Olavo aponta que é preciso promover a lenta, gradual e segura ocupação de espaços. Promover a ocupação de espaços pela direita e realizar a formação da nova geração, que vai substituir essa geração que aí está.

Durante muitos anos a esquerda esteve ocupando as principais chapas da disputa presidencial. O próprio Lula, ao enfrentar José Serra em um segundo turno, disse que estava feliz por haver dois partidos de esquerda no poder, e que ele e Serra haviam inaugurado uma nova forma de fazer política, que mais tarde ficou conhecida como estratégia das tesouras. Formam um falso antagonismo entre si, mas, no final, sempre estão no poder.

Nas eleições de 2018, presenciamos um fenômeno político, onde elementos de uma direita se cristalizaram na figura de Jair Bolsonaro, e o levaram a presidência. Em meio a essa onda Bolsonaro (fenômeno político) deputados e senadores foram eleitos, se valendo do rótulo da direita e do conservadorismo. Acontece que boa parte desses parlamentares são, na verdade, direitistas improvisados. Tendo usado chavões da direita e do conservadorismo durante a campanha, agora, eleitos, têm demonstrado serem totalmente desprovidos do conhecimento sobre a guerra cultural que enfrentamos.  Incapazes de perceber o que são esquemas de poder, têm aberto espaço para que a esquerda continue agindo.

Após eleitos, os parlamentares precisam preencher cargos. E é aqui que mora um grande problema. Um parlamentar verdadeiramente da direita, de posse dos conhecimentos necessários para compreender a guerra cultural e o atual cenário político, precisa ter em mente que é necessário que a direita faça uma ocupação de espaços. Precisa ter em mente que é necessário substituir as pessoas que compõem os gabinetes por soldados da direita. Acontece que sem conhecimento necessário, os parlamentares caem no imbecil erro de visar uma coisa chamada capacidade técnica.

Um dos motivos pelos quais não podemos denominar o comunismo como sendo uma ideologia, é porque ele já trocou de ideologia centenas de vezes. Se trocam de ideologias, como podemos reconhece-los? É simples, basta observar que, ainda que troquem de ideologias, são sempre as mesmas pessoas. Por isso o comunismo é melhor denominado como sendo um movimento, e que exerce um poder sobre seus integrantes.

Quando um desses parlamentares da direita precisa escolher as pessoas para preencher os cargos, é inútil frisar no campo ideológico, pois, como vimos, eles trocam de ideologia como quem troca de roupa. Mais inútil ainda, é se orientar com base na capacidade técnica. É preciso observar a que esquema de poder aquela pessoa está ligada. É preciso cuidar para que não sobre nos cargos nenhuma pessoa que tenha ligações com governos passados, e com governos esquerdistas. É preciso remover todas essas pessoas, e colocar pessoas que sejam, efetivamente, da direita, custe o que custar. Foi fazendo isso que a esquerda chegou onde chegou. E somente assim, fortalecendo a direita, é que vamos realizar a necessária ocupação de espaços e reverter o quadro político.

Um parlamentar que ousa intitular-se como sendo de direita, e que deixa de nomear para algum cargo um integrante da direita para deixar no poder alguém que tenha ligações com governos de esquerda, alegando questões de capacidade técnica, só pode ser duas coisas: 1) É um total ignorante no que diz respeito a Guerra Cultural, e não compreendeu quem é o inimigo, como ele age, e como derrota-lo. 2) É um covarde, que mesmo percebendo tudo isso, não tem brio nem culhão para realizar as mudanças necessárias, ainda que isso lhe custe o próprio mandato.
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