Debilidades da direita no combate cultural

sexta-feira, 22 de março de 2019


Se há uma coisa que é comum, nos mais diversos setores da sociedade, é a pressa em agir. Já diziam os antigos que apressado come cru, e que a pressa é inimiga da perfeição. Depois de um longo período apagada no arco do tempo, a direita alçada pelos ideais representados por Jair Bolsonaro surgiu já com este terrível mal, cristalizado em si. Não tomando consciência do que de fato é necessário ser feito, aqueles que pretendem ser suporte para o atual governo podem acabar por precipitá-lo ao fracasso. 

O movimento comunista, que no Brasil conseguiu obter hegemonia intelectual e cultural, não conseguiu este feito através de um governo de 4 ou 8 anos, tampouco o conseguiu da noite para o dia. Durante décadas eles trabalharam arduamente, efetuando a ocupação de espaço propostas pelo ideólogo Antônio Gramsci. Se eles levaram 50 anos para colocar tudo isso em prática, o mínimo que vamos levar para desfazer tudo isso, e fazer um contraponto, é também 50 anos. Querer fazer algo mais rápido que isso só resultará em derrota.

Não procurar compreender em profundidade o cenário de combate cultural ao qual estamos inseridos, pode fazer com que muitas pessoas, de posse de uma visão muito superficial do problema, tomem posse de alguns chavões que circulam na internet, e se coloquem em prontidão para resolver um problema que não estão aptos a sequer compreender, muito menos resolver. O sinal mais claro da incompreensão dessa situação que nos abarca, por parte dessa nova direita, é imaginar que verá, ainda em vida, a vitória do conservadorismo sobre o movimento comunista. Quem quer que não tenha perdido as ilusões de ver essa vitória acontecer, e que não tenha se conscientizado de que os frutos desse nosso combate cultural só serão colhidos por nossos filhos e netos, não entendeu 10% do que está acontecendo. 

Quando o professor Olavo de Carvalho fala sobre a necessidade de ir estudando e ocupando espaços, muitas pessoas cortam a parte do estudando, e ainda interpretam mal a ocupação de espaços. Se, por exemplo, não investigamos as fontes culturais de nossa conduta, não sabemos quem está determinando nossa conduta. Quantas pessoas se colocam a meditar sobre essa situação, que é elementar? 

Na busca pela ocupação de espaços é fácil hoje ver em todo o Brasil a direita lutando por cargos públicos e por comissões políticas. Mediante isso, duas perguntas são imprescindíveis: 1) O caminho para chegar até lá foi pautado por uma vida intelectual? 2) Os que buscam tais postos estudaram o que é o poder, o que é a política, e sabem exatamente o que precisam fazer ao chegar lá?

Se ao ver a necessidade de uma vida intelectual, você se questiona se isso é mesmo necessário para realizar tal feito, uma luz de alerta deve se acender, e você deve se questionar. Os grandes acontecimentos políticos surgem através de ideias de filósofos, que por sua vez, surgem em meio a conversas em pequenos grupos de intelectuais. Ao ler Dostoievski, vemos lá um pequeno grupo, em 1850, conversando sobre revolução, que só foi acontecer em 1917. Já nos alertava Hugo Von Hofmannsthal: “Nada está na realidade política de um país, que não esteja primeiro na sua Literatura. ”

O tipo de ocupação de espaços realizada pelo movimento comunista no Brasil, é essa que coloca o sujeito na literatura, para influenciar toda uma geração. Que coloca o sujeito na mídia, para influenciar toda a sociedade. Não é uma ocupação de espaços direto na política, com muitos da nova direita estão entendendo e realizando. Quando Olavo de Carvalho fala que para quebrar o movimento comunista é preciso continuar estudando e ocupando espaços, ele não está falando da conquista de cargos públicos e comissões em partido. Ele está falando em formar grupos de estudo, grupos de literatura, grupos de debate, que vão em primeiro lugar formar uma classe intelectual. Que vão restaurar a cultura literária, artística e cinematográfica. Depois vão restaurar a cultura historiográfica, filosófica, sociológica. Realizar discussões entre intelectuais para obter a descrição da situação. Formar um estado maior para realizar estudos mais sistemáticos. Criar um serviço de informações para alimentar o estado maior. Iniciar a formação da militância, para daí surgir ações. Dessa forma, exercendo um tipo específico de poder, que é o poder intelectual, que embora seja o meio de poder mais demorado, é o mais efetivo. Você pertence a algum grupo de direita, por esse Brasil a fora, ainda que de forma virtual? Suas ações são voltadas para o estudo e essa ocupação de espaços específica? Ou estão perdidos em meio a politicagem?
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2 comentários:

  1. Gostei bastante do texto, porém evitaria o rótulo que considero insuficiente, de "direita" e perguntaria: Você pertence a algum grupo de estudos? Parabéns, Rafael Miclos.

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    1. Olá, Cleide! Sou aluno do Olavo no curso online de filosofia, mas não faço parte de nenhum grupo de estudos.

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